Entrevista: “Empresas do setor tem investido em tecnologia, controles e treinamentos de pessoal”-Paulo Miguel Junior – presidente do Conselho Nacional da ABLA

Um mercado diferente na cadeia automotiva mundial, um mercado que tem se atualizado para atender a todo tipo de cliente, pois é – a indústria da locação de veículos é crescente no país. E tem se atualizado para atender um mercado consumidor cada vez mais exigente. Para falar do mercado de locação de veículos – entrevistamos Paulo Miguel Junior – presidente do Conselho Nacional da ABLA – Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis

Como está o mercado brasileiro de locadoras – diante dessa pandemia?

Paulo Miguel Junior  – As locadoras que atuam no Brasil estão vivendo um momento de retomada no ritmo dos negócios, após os meses críticos da pandemia, em abril e maio. De junho para cá, o aluguel de carros para motoristas de aplicativo no país já retomou em quase 100% do que era antes da pandemia. O aluguel para empresas também já retomou ao patamar verificado antes da pandemia e o aluguel diário para pessoas físicas retomou 60%. Em abril e maio, estavam parados 90% dos veículos que vinham sendo alugados para pessoas em viagens de negócios e para famílias em viagens de lazer; naqueles dois meses, a devolução de veículos que estavam locados para motoristas do Uber, 99 e Cabify atingiu a marca de aproximados 80% de carros devolvidos. O aluguel de frotas para empresas privadas, órgãos públicos e prefeituras (terceirização de frotas) também caiu durante aqueles dois meses, em aproximados 20%.

Com advento do UBER – o mercado de locação se retraiu ou pelo contrário continua crescente?

Paulo- Continuou crescente. Nossa estimativa é que cerca de 200 mil veículos de locadoras são utilizados por motoristas de aplicativo, ou seja, os motoristas se tornaram clientes importantes para as locadoras. Os interessados em trabalhar com aplicativos têm nas locadoras a melhor opção, pois não precisam se preocupar com IPVA nem com manutenção do carro. Para esse tipo de locação, as locadoras exigem que o motorista já tenha um cadastro prévio e aprovado junto aos aplicativos de transporte, pois a avaliação é feita em conjunto ao sistema da empresa. O Brasil é um dos maiores mercados de aplicativos de transporte no mundo. Para as locadoras, esse mercado representa mais uma oportunidade, mas também adaptações importantes no modelo de negócios para atender a esse tipo de demanda. Esse tipo de locação implica em um nível de utilização intenso e em necessidade de renovação da frota em períodos mais curtos, porém nunca antes de 12 meses.

Qual é o maior desafio neste mercado de locação – já esteve melhor em 2019?

Paulo- Há diferentes desafios, que já vinham desempenhando papel importante no ano passado e que, este ano, com a pandemia, ficaram ainda mais importantes. O esforço do setor como um todo, e também de cada empresa locadora individualmente, tem de passar pela questão da capacitação, qualificação, por repensar formas de gestão, pela agilidade no atendimento, conveniência e novos diferenciais a serem agregados na locação de um veículo. Por exemplo, a diversificação da frota das locadoras tem se mostrado um fator cada vez mais importante para atender o crescente desejo de atendimento personalizado por parte de empresas de todos os portes, órgãos públicos e também pessoas físicas. Será preciso implantar novidades que possam colaborar para a eficácia e a eficiência do aluguel de veículos, o que entendemos que será cada vez mais essencial dentro do nosso setor.

O Governo Bolsonaro tem contribuído para a expansão dos negócios – o que falta para o Governo fazer a vida das locadoras melhorar?

Paulo- Paulo- Entendemos que o foco dos Governos, sejam estaduais, municipais ou mesmo o Governo Federal, deve estar nos fatores estruturais que, direta ou indiretamente, interferem no desenvolvimento mais enfático da economia como um todo. Por exemplo: durante essa quarentena, acentuaram-se as dificuldades para obtenção de crédito para as pequenas e médias empresas, o que implica, para boa parte dos empresários do nosso setor, em estar muito bem preparados e ter um planejamento adequado às necessidades de capital. Além disso, a carga tributária que incide sobre as locadoras permanece acima da realidade do negócio. São impostos municipais, estaduais e federais, tais como PIS, COFINS e ISS (para locação com motorista), bem como IPI e ICMS sobre a compra de veículos, sem contar o IPVA, atualmente razão de grande disputa entre os estados e que vem gerando muita incerteza, além de prejudicar a competitividade sadia entre as locadoras de diferentes estados. Há necessidade, também, de melhorias das condições das estradas, assim como das vias públicas em áreas urbanas, também são importantes na medida em que os custos com manutenção dos veículos é um dos fatores que mais pesam na gestão da frota nas locadoras.

O roubo de veículos no país é grande – mas pouco se ouve falar de roubos de carro das locadoras? Tem algum sistema de segurança especial?

Paulo- De fato, a maior parte das empresas do setor tem investido em tecnologia, controles e treinamentos de pessoal nesse sentido. O que mais afeta o setor de locação é a chamada apropriação indébita, em que criminosos se dirigem às locadoras como clientes comuns, alugam veículos e não devolvem após o prazo determinado em contrato. Pleiteamos uma rápida solução para a atual falta de sistemas interligados na gestão dos DETRANS e das polícias, para que os criminosos e os receptadores comecem a enfrentar restrições de circulação quando em posse dos veículos apropriados de maneira indevida. No sentido de inibir esse tipo de comércio ilegal, é importante lembrar que as pessoas que ficam rodando com os veículos nessas condições estão sujeitas a responder pelo crime de receptação. É preciso tomar todos os cuidados possíveis ao comprar um veículo nessa condição em que o valor solicitado é muito inferior ao que ele realmente vale, para não cair em um golpe e ter que responder por isso. Vale a pena consultar a documentação e a procedência do carro antes de fechar negócio.

As fabricas de veículos estão a cada momento com uma novidade no mercado – o que vai facilitar para as locadoras – um veículo que não precisa de motorista?

Paulo- Hoje, cada empresário, gerente ou executivo do setor de locação precisa aprender a ver a si próprio como “uma empresa de sucesso”, até porque a nossa atividade também está vivendo esse profundo momento de transformações, tais como a que você citou nessa pergunta. Costumo dizer que quem insistir em pensar, em agir e em alugar veículos sempre da mesma forma com que nós alugávamos no século passado, tende a ter muitas dificuldades para permanecer no mercado. Estão acontecendo mudanças e avanços que estão relacionados com o nosso setor. Por exemplo, a conectividade dos carros está em expansão rápida; a chegada de veículos híbridos e elétricos ao mercado já está acontecendo; há novas formas de compartilhamento de veículos sendo postas em prática e existe uma diversidade de aplicativos relacionados ao transporte de pessoas, entre outros exemplos. Enfim, são diversos novos fatores que surgem a cada dia que certamente exigirão novas respostas na nossa maneira de trabalhar com locação de veículos.

Qual é o seu maior medo diante desta pandemia mundial?

Paulo- Não usaria a palavra “medo”. Desde o início da pandemia buscamos a autorização de todos os estados e municípios para continuar atendendo às demais atividades essenciais que necessitavam de veículos para complementar a frota, bem como para dar atendimento aos contratos de locação em andamento com pessoas físicas, empresas e órgãos públicos. É verdade que a pandemia gerou instabilidade e desestabilização mundiais na esfera da economia, o custo do dólar chegou a patamares assustadores e, com tudo isso, houve um forte desaquecimento que também impactou o nosso segmento. Além disso, as montadoras reduziram a produção de veículos e o crédito continuou difícil principalmente para as pequenas e médias locadoras. Mesmo assim, o mercado brasileiro é o mais desenvolvido da América do Sul e, como explicamos nas respostas anteriores, já estamos vivendo um ritmo de retomada até mais rápido do que poderíamos imaginar no início da pandemia.

Em várias capitais brasileiras e em outros grandes centros do país – foi proibida a circulação de ônibus – isso aumentou o índice de locação de veículos?

Paulo- O que temos observado é que mais pessoas estão evitando as aglomerações típicas dos transportes públicos. Nesse sentido, utilizar o carro tem sido a melhor opção e o nosso setor surge naturalmente como instrumento para quem deseja e precisa se deslocar com menos riscos de contaminação pela Covid-19. O automóvel, nesse momento, ainda é a melhor forma de evitar o contágio nos deslocamentos. Quando as restrições de circulação começaram a diminuir e com o valor acessível das tarifas de locação, cresceram as chances de pessoas interessadas em evitar aglomerações procurarem o nosso setor. Por precaução, daqui para frente o comportamento de parte da população tenderá a ser o de usar mais veículos próprios ou locados e menos os transportes públicos ou compartilhados. Não é nos automóveis que o vírus se espalha. Quando observamos as aglomerações, elas acontecem onde as prefeituras não têm coragem de atuar. Exemplo disso são os próprios transportes coletivos, que não são exatamente as melhores referências em termos de higienização. Nosso setor já implantou protocolos de higienização e medidas a fim de evitar o contágio. Enfim, entre os legados da Covid-19 estará a valorização do transporte individual, que garante mais segurança contra novos contágios.

Como é presidir a Associação Brasileira das Locadoras? Quantos associados? E qual é o papel da associação junto a seus associados?

Paulo- A ABLA é a representante nacional do setor de locação de veículos, que ao final de 2019 reunia 10.812 locadoras ativas, que somadas têm 997.416 veículos, de acordo com o Anuário Brasileiro do Setor de Locação de Veículos. O papel da ABLA passa por proporcionar cada vez mais a profissionalização do setor, capacitação dos profissionais que atuam nas locadoras, defender os direitos das locadoras e ainda oferecer produtos e serviços, por meio de parceiros comerciais, em condições de preço e/ou prazo diferenciados para as locadoras associadas. Sobre como é presidir uma entidade desse porte, eu diria que é um grande desafio, é preciso paixão pelo que faz e se desvestir de vaidade e individualismo. Há demandas diárias a serem enfrentadas por toda sorte de adversidades, projetos de pessoas que não conhecem o setor, criando “inovações”. Presidir a ABLA é ter que enfrentar tudo isso sem deixar escapar nada. Presidir uma entidade não é para principiantes, ainda mais a ABLA, que já possui um grande número de associados e seus 43 anos de fundação. Temos tido uma gestão colegiada e trabalhar juntamente com outros empresários do setor é fundamental para que busquemos atender os interesses de grandes e pequenas locadoras, sem nunca prejudicar nenhuma delas. A defesa dos associados independentemente do tamanho da locadora é fundamental para o sucesso da gestão.

As corretoras de seguros fazem parte deste grupo de empresas e temos hoje as melhores e maiores corretoras do mercado brasileiro com parcerias exclusivas para nossos associados.

Nos contratos de locação de veículos existem as cláusulas de proteção, que na prática são os ajustes ao contrato oferecidos aos usuários no sentido de atenuar ou excluir sua responsabilidade em caso de danos ao veículo durante a locação. O locatário, evidentemente, também é responsável por conservar o veículo. O que a cláusula de proteção faz é tornar o usuário dispensado de indenizar locadora nesse tipo de situação, conforme a amplitude da proteção. A proteção básica dessa cláusula é para casos de furto, roubo e acidentes. Importante acrescentar que a proteção é vendida por locadoras em todos os países do mundo e não se constitui em seguro. Nos EUA, por exemplo, a cláusula referente à proteção é a Collision Damage Waiver (CDW). O preço da proteção é proporcional ao risco e não há tabela de preços. Ou seja, cada empresa determina seu próprio preço de proteção, conforme sua decisão comercial e administrativa. As cláusulas de proteção não são e não devem ser confundidas com apólices de seguro.

Presidente – que livro está lendo?

Paulo- Mentes Manipuladas – Dr. Brian Boxer Wachler

Que tipo de comida gosta?

Paulo- Italiana

Seu grande sonho neste mercado de locadoras?

Paulo- Descobrir o jeito mais fácil e seguro para disponibilizar os veículos para os clientes.

 Conte um pouco de sua experiência no setor até chegar à presidência da instituição?

Paulo-     Minha primeira experiência com locação de veículos aconteceu em 1986. Meu pai e outros sócios abriram um franquia da Localiza em Marília – SP, onde aprendi sobre locação, estudando à época os manuais de Localiza. De lá para cá, foram diversas experiências em outras empresas até que, por volta de 2004, passei a ser sócio da minha própria locadora. Hoje, sou um franqueado da Europcar na cidade de Indaiatuba – SP e, como sempre fui defensor do associativismo, sempre estive junto às entidades do setor. Primeiro no SINDLOC-SP (sindicato patronal das locadoras no estado), onde participo da diretoria desde 2004; e na ABLA desde de 2012, como membro do Conselho Gestor, primeiramente como suplente e depois como titular. Cheguei em 2018 à Presidência dessa importante entidade e agora, em 2020 e 2021, estou exercendo meu segundo mandato no cargo.

Fonte: http://mercadodenoticias.com.br/2020/10/01/entrevista-empresas-do-setor-tem-investido-em-tecnologia-controles-e-treinamentos-de-pessoal-paulo-miguel-junior-presidente-do-conselho-nacional-da-abla/

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