RS tem maior venda de carros zero-quilômetro em quatro anos

De janeiro a abril, alta nos emplacamentos foi de 2,3%, mas ainda não recupera níveis pré-crise

As vendas de carros percorrem trajeto de retomada gradual no Rio Grande do Sul após engatarem marcha a ré durante a crise econômica. De janeiro a abril deste ano, 44,1 mil automóveis de passeio e comerciais leves zero-quilômetro foram emplacados no Estado, avanço de 2,3% em relação a igual período de 2018. Os dados integram pesquisa do Sincodiv-RS, que representa as concessionárias e as distribuidoras.

Segundo o levantamento, o número de veículos negociados é o maior para o primeiro quadrimestre desde 2015, quando o mercado gaúcho havia registrado vendas de 51,9 mil unidades. Apesar do crescimento, o setor ainda não recuperou totalmente as perdas causadas pela crise. Entre janeiro e abril de 2014, último ano antes da recessão, 69,5 mil automóveis haviam sido negociados no Estado, volume 36,5% superior ao de 2019.

Vice-presidente do Sincodiv-RS, Tarso Zanatta afirma que a alta nos últimos quatro meses foi influenciada, em grande parte, pelas vendas diretas de fabricantes para clientes como locadoras de carros. O desempenho positivo de segmentos da agropecuária, acrescenta Zanatta, também beneficiou os negócios, especialmente no interior do Estado.

— Não foram só os negócios para locadoras que tiveram impacto no resultado. A safra de verão respingou de maneira positiva nas vendas de veículos, inclusive de automóveis. A geração de riquezas no Interior é bastante focada na área agrícola e repercute em toda a população — analisa.

Depois de pesquisar ofertas de diferentes marcas, Lena Lúcia Matos da Silva, 52 anos, fechou acordo para comprar em abril um Chevrolet Prisma, modelo 2019, em uma concessionária de Canoas, na Região Metropolitana. É o primeiro automóvel que a professora aposentada adquire desde que deixou Manaus, há seis anos, para viver perto dos cinco filhos em Porto Alegre.

— Consegui um bom desconto após fazer uma pesquisa de mercado. Isso pesou na minha decisão, além do fato de que desejava ter o carro que comprei — destaca a professora aposentada.

Na comparação com o desempenho nacional, o Rio Grande do Sul ficou para trás. Entre janeiro e abril, a alta nas vendas de automóveis de passeio e comerciais leves no país chegou a 8,7%. No período, o Brasil teve 801,3 mil novas unidades emplacadas, aponta a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).

— O Estado passa por crise fiscal, que dificulta crescimento mais expressivo das vendas em relação a outras regiões do país. Além disso, a tributação mais alta de produtos como gasolina também se reflete na ponta para o consumidor — observa Zanatta.

Na avaliação de analistas e empresários, o mercado automotivo tende a seguir no azul em 2019. Gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria Jato Dynamics, Milad Kalume Neto projeta crescimento médio acima de 10% nas vendas nacionais de automóveis de passeio e comerciais leves no acumulado do ano.

— Sem dúvidas, o mercado vem mostrando maior força de reação —  define Kalume Neto.

O pesquisador Antônio Jorge Martins, que coordena cursos na área automotiva da Fundação Getulio Vargas (FGV), frisa que o potencial de crescimento do setor está relacionado, em parte, à demanda reprimida pela crise econômica. Para o especialista, a tendência é de que as montadoras apostem, cada vez mais, no avanço de recursos tecnológicos para atrair clientes.

— O carro passará a ser um celular sobre rodas — sentencia.

A pesquisa do Sincodiv-RS também contempla categorias como caminhões, ônibus e motos. Na soma de todos os grupos, o Rio Grande do Sul emplacou 60,8 mil veículos entre janeiro e abril. O resultado equivale a avanço de 5,6% frente a igual período do ano passado. No Brasil, a alta geral foi mais robusta, de 12,2%.

Com crise argentina, produção não cresce

Enquanto as vendas de automóveis de passeio e comerciais leves cresceram no mercado interno, a atividade nas montadoras ficou relativamente estável nos primeiros quatro meses do ano. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), 922,3 mil unidades foram produzidas entre janeiro e abril no país, número 0,01% superior ao verificado em igual período de 2018. A entidade não divulga os dados com recorte estadual.

Para analistas, a produção estagnada deve-se, em parte, ao revés no mercado internacional. No primeiro quadrimestre, as exportações de automóveis de passageiros despencaram 40%, para US$ 1,2 bilhão, conforme o Ministério da Economia. No Rio Grande do Sul, a redução em termos percentuais foi maior, de 47,4%, para US$ 132 milhões, segundo dados preliminares da pasta.

O tombo está relacionado à crise econômica que atormenta a Argentina, principal destino dos carros enviados pelo Brasil ao Exterior. De janeiro a abril, as exportações de automóveis ao país comandado pelo presidente Mauricio Macri caíram 54%, para US$ 748 milhões.

— O mercado interno brasileiro está mais aquecido. Caso não fosse afetada pela queda nas exportações, a produção cresceria mais.  O Brasil já vendeu bem mais para o Exterior. Não é fácil exportar — comenta o pesquisador Antônio Jorge Martins, que coordena cursos na área automotiva da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Gerente de desenvolvimento de negócios da consultoria Jato Dynamics, Milad Kalume Neto classifica como “gravíssimos” os impactos da crise na Argentina. Para o especialista, o governo federal deve trabalhar em busca de novos acordos comerciais para que a indústria consiga driblar percalços.

— O setor está buscando novos mercados na América do Sul, como Peru e Uruguai. Mas falta ao país o amadurecimento de novos acordos bilaterais — argumenta Kalume Neto.

 

Fonte:  Gauchazh

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