Locadoras salvaram o setor automotivo no ano passado

Mas o que esperar de 2022?

Por Raphael Galante

 

Caros leitores, digníssimas leitoras,

O ano de 2021 se encerrou e o setor automotivo registrou 1,974 milhão de carros vendidos. Esse número representou um crescimento de 1,16% sobre o ano “pandêmico” de 2020, quando vendemos 1,951 milhão de carros.

E que ensinamentos que tiramos deste ano que acabou?

São vários. Um deles é o de que não existe um mísero modelo econométrico “pandêmico” para se tentar fazer uma previsão sobre qualquer coisa. No começo de 2021, todos imaginavam um crescimento parrudo de dois dígitos. Agora, estão se contentando com o mísero 1% de crescimento.

Para o pessoal que é “old school”, aqueles que sabem (e viveram) um overnight, o longo prazo no Brasil virou seis meses, principalmente no mercado automotivo! Se você quer mais tempo do que isso, é preferível ir preenchendo os volantes da Mega-Sena da Virada.

Para nós, o aprendizado foi ainda mais doloroso, já que o estagiário “falhou miseravelmente” nas suas expectativas. Ele imaginava um mercado no zero-a-zero, com viés negativo. Mas apareceu esse crescimento de 1% para complicar toda nossa situação.

E quem foi o responsável por salvar o setor automotivo (apesar desse crescimento pífio)?

Foi ela, a “BENDITA GENI” das montadoras: as locadoras.

Essa foi a variável que subestimamos.

No terceiro trimestre do ano passado, as locadoras compraram um volume próximo de 65 mil carros. Ou seja, 14% do total que foi vendido no mercado interno foi para elas. E o que aconteceu no último trimestre (com grande destaque para o mês de novembro-dezembro)?

No último trimestre, mais de 95 mil carros foram vendidos para elas (36 mil só em dezembro) – o que elevou a representatividade das locadoras para 19% do total do que foi vendido no período. A participação média das locadoras no ano de 2021 ficou em 15,5% (para você notar como o terceiro trimestre veio forte!).

Esse “plus-adicional-a-mais” que as locadoras compraram (mais ou menos 30 mil carros) foi o que salvou o setor e gerou esse crescimento. Caso contrário, o ano teria sido mais frustrante do que foi…

E por qual motivo as montadoras foram atrás delas?

São vários: o mercado doméstico (pessoa física) deu uma travada; as montadoras precisavam entregar os seus objetivos (junto às matrizes) e garantir o bônus da galera; vários produtos estão morrendo e/ou saindo de linha (devido a nova legislação ambiental); as locadoras necessitavam renovar a sua frota de veículos.

E aí, juntou-se a fome com a vontade de comer. As montadoras, necessitando vender o seu estoque, e as locadoras, que adoram comprar produtos na bacia das almas!

Enfim, no momento de desespero, aquele que é “mal visto” pelas montadoras, se torna o salvador da galera, assim como a GENI.

E como foi o ano de 2021?

A decepção do ano foram as marcas americanas Ford e GM, que registraram queda nas vendas de 73% e 29%, respectivamente. Na real, a Ford puxou o carro e foi embora. Já a GM foi a mais afetada pela falta de componentes (os famigerados semicondutores), com direito até a mudança de presidente da companhia.
Se as americanas foram a decepção do ano, a surpresa extrema foram as marcas francesas. O mercado cresceu pífios 1%, mas a Peugeot dobrou de tamanho, com evolução de 120%. Já sua irmã Citroen registrou crescimento de 74%.

Sim, para vocês verem que estamos vivendo o mundo ao contrário, o destaque do ano ficou para as marcas francesas!

No caso delas, esse excelente resultado está atrelado à mudança da gestão da marca. Tivemos a criação do grupo STELLANTIS (Fiat-Jeep-Peugeot-Citroen). E aqui, em terras tupiniquins, a gestão da operação deixou de ser francesa para ser italiana. Mamma mia!

Além disso, temos a nossa menção honrosa.

A Caoa-Chery chegou quase a dobrar de tamanho: o crescimento foi de 98% no ano que passou. Eles apostaram (e acertaram) no mercado de SUVs, já que esse é o produto que mais cresce em vendas por aqui. Além disso, possuem a melhor linha de SUVs do país (em preço/opções), desde o Tiggo 2 até o Tiggo 8.

E o que devemos esperar para 2022?

Estou apostando um picolé de limão que, com sorte, o setor deverá ter mais um ano medíocre. Se conseguirmos cravar a marca de 2 milhões de unidades, será o nosso milagre de Natal.

Qual é o cenário que se desenha?

– Crescimento pífio da economia. Segundo os últimos relatórios Focus do BC, a perspectiva da maioria é que a economia tupiniquim avance 0,3% neste ano. Ou seja, um balde de água fria para a demanda de veículos, já que não devemos ter aumento real na renda média do brasileiro – além de manter o alto o índice de desemprego;

– Selic a 11,4%. O impacto para o financiamento da produção e aquisição do veículo será na veia. As taxas de juros ao consumidor para aquisição de veículo já voltaram ao patamar de 2016. A tendência é de chegarmos ao nosso recorde (negativo) histórico.

– A falta de insumos (em geral) deverá se manter durante todo o primeiro semestre, com possível melhora só no último trimestre do ano.

– O mercado mudou! 2021 foi o ano do SUV (produto mais vendido). O dito carro “popular” de antigamente está morrendo de morte matada e morte morrida. Tivemos a saída do Fiat Uno e VW Fox, por exemplo. Já o legendário VW Gol teve decretado o seu óbito na Argentina (onde foi líder de vendas por 17 anos). No Brasil, ele deverá acontecer em 2023!

– Aumento dos preços dos carros (repasse inercial). Teremos pressão do câmbio, falta de insumos, dissídio coletivo das montadoras (que foi uma cacetada – e devem impactar num aumento médio entre 2% a 3% neste ano); novos carros que estão menos poluentes (norma L7) e mais caros. Os catalisadores que deverão ser usados terão mais Platina, Paládio e Ródio – depois veja quanto custam esses metais!

– Carro novo e acessível, para uma população que vem tendo perda de renda (em dólares) nos últimos quatro anos, virou miragem!

Ah, e eu quase ia esquecendo. Ainda teremos eleições neste ano. Dependendo para qual lado for o resultado, teremos mais turbulência à vista!

 

 

 

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