Veículos elétricos de segunda mão começam a aparecer no mercado

O carro elétrico ainda vive o seu primeiro ciclo de vida no Brasil, mas já é possível encontrar modelos disponíveis no mercado de usados. Trata-se de uma boa opção para quem deseja ingressar no universo dos veículos movidos a bateria, uma vez que os preços dos automóveis 0-km continuam galopantes.

“O Brasil acordou para os carros elétricos há pouco tempo, em 2015”, explica Enílson Sales, vice-presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotivos (Fenauto). Embora não existam dados tão consistentes nesse segmento, alguns estudos já apontam o índice de depreciação dos elétricos. “Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), depois de três anos de uso, ele desvaloriza 41%”, afirma.

Para Sales, a perda pode ser explicada por alguns gargalos. A autonomia dos elétricos já aumentou bastante em relação aos primeiros modelos vendidos no País; porém, ainda causa desconfiança no usuário, que teme ficar sem carga na bateria no meio do caminho. A bateria, aliás, tem vida útil de oito a dez anos e é provável que o segundo dono precise trocá-la a um custo alto. “Por enquanto, o nível de produção não tem escala para barateá-la”, diz.

Não há mistério: o mercado de elétricos usados será abastecido na mesma velocidade que a indústria conseguir vender carros novos no País. “Nosso negócio está intrinsicamente ligado à venda de 0-km. Afinal, nunca existiu nenhum fabricante de veículos usados no mundo”, completa.
Para Silvia Barcik, diretora de mobilidade da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e embaixadora da Mobilidade do Estadão, o carro elétrico ainda está inserido em um contexto muito recente no Brasil.

Reposição de bateria

“Quem quer negociar um automóvel pode recorrer à tabela Fipe para chegar ao preço de referência. Com o elétrico, isso está apenas começando”, avalia Barcik. “O grande desafio das montadoras é encontrar esse valor de revenda e se comprometer com ele para dar garantias ao vendedor e ao comprador.”

Ela conta que a troca do carro elétrico, em outros países, acontece, em média, a cada cinco anos, tempo superior ao do automóvel com motor a combustão. “Na hora da venda, a bateria do veículo tem cerca de metade de sua vida útil pela frente e atenderá o novo proprietário em termos de autonomia”, revela. “Mas, com oito anos de uso, a bateria entrega 80% de sua capacidade, porque os elementos químicos perdem eficiência energética.”

O segundo dono do veículo 100% elétrico, provavelmente, terá de arcar com o custo de uma eventual reposição de bateria ou de alguns de seus módulos. Silvia Barcik lembra que, na Europa, em 2014, a Renault criou o serviço de aluguel de bateria, que aliviava um pouco o bolso do usuário. “Na ponta do lápis, alugar bateria valia a pena e tranquilizava o cliente. E essa segurança é um aspecto importante para quem vai comprar o carro”, afirma.
Hoje, esse serviço não existe mais. A tecnologia das baterias está mais avançada e a autonomia melhorou muito.

Calcanhar de aquiles

Lançado no Brasil em 2015, Nissan Leaf apresenta depreciação de cerca de 30% após utilização de um ano. Foto: Divulgação Nissan

A bateria é o coração do carro elétrico, mas é também seu calcanhar de aquiles. Ela é o componente mais caro e acaba se transformando em preocupação no momento da compra de um veículo de segunda mão. “O interessado sempre vai pensar se ele consegue avaliar se a bateria está saudável ou não”, salienta Barcik.

O engenheiro eletricista Zeno Luiz Iensen Nadal já comprou dois carros elétricos usados: um Mitsubishi i-MiEV 2011 e um Renault Zoe 2019. Adquirido em março do ano passado, por R$ 59 mil, o Mitsubishi estava com o hodômetro marcando apenas 17 mil quilômetros rodados e precisou de poucas intervenções.

O segundo dono trocou os quatro pneus e fez uma estética automotiva para dar novo viço à pintura. “Na parte mecânica, ele estava impecável”, garante. Mesmo assim, há dois meses, o carro passou por um recall para a troca de um componente do sistema de freio.

Nadal admite, porém, que a autonomia é uma limitação do i-MiEV. Com dez anos de vida, o carro tem bateria menos eficiente. “Ele roda só 110 quilômetros na cidade e me incomoda muito quando aparece o desenho da tartaruguinha amarela no painel, avisando que está na hora de recarregar a bateria”, comenta o engenheiro que mora em Curitiba (PR).

Nesse aspecto, o Zoe lhe dá mais tranquilidade, porque oferece 300 quilômetros de autonomia. Ele não acredita ser o momento de substituir a bateria por outra, nova. O item faz parte do catálogo de peças da marca, mas custa nada menos que R$ 130 mil.

Além de servir Nadal no dia a dia nos percursos urbanos, o Mitsubishi i-MiEV faz parte do material de apoio no trabalho de conclusão de curso (TCC) de um amigo, cujo tema é como carregar carro elétrico só usando energia fotovoltaica.

Zoe comprado em leilão

Ao contrário de Nadal – que pagou R$ 125 mil pelo Zoe de um particular –, o servidor público João Carlos Afonso Costa arrematou seu Renault Zoe 2014, com 45 mil quilômetros rodados, em leilão promovido pela Usina Hidrelétrica de Itaipu, que se desfez de 12 unidades de sua frota, em janeiro.

“Cheguei a considerar o Chevrolet Bolt, mas não me animei por causa do preço. Daí eu soube do leilão da Itaipu e vi que era uma boa oportunidade. Carro elétrico usado é uma porta de entrada para quem procura esse tipo de veículo”, afirma.

Os números do leilão confirmam essa ideia. Os 12 Zoe começaram com lance inicial de, aproximadamente, R$ 40 mil e foram vendidos, em média, por R$ 78 mil, o que comprova o interesse por veículos de segunda mão movidos a bateria com preços atraentes.

A oferta vencedora de Costa foi de R$ 74 mil e ele desembolsou mais R$ 4 mil de comissão ao leiloeiro. Não se arrepende do negócio. “O Zoe é prático, ágil e econômico. Um ótimo carro para uso cotidiano”, garante. A única ressalva também diz respeito à autonomia da bateria, de apenas 150 quilômetros na cidade e 110 na estrada.

Com oito anos de uso, a bateria do Zoe do servidor público ainda não apresentou sinal de desgaste. Se isso acontecer, ele acena uma solução: o balanceamento das células do componente. “A bateria é composta por células ligadas entre si. Quando for o caso, é possível trocar uma célula defeituosa por outra mais nova, aumentando a vida útil da bateria”, afirma.

Novo x usado

Compare a diferença de preços de quatro modelos elétricos 0-km e usados e a depreciação após um ou dois anos de uso

BMW i3
0-km: R$ 304.950
Modelo 2020: R$ 228.127
Desvalorização: 26%

Chevrolet Bolt
0-km: R$ 279.000
Modelo 2020: R$ 217.642
Desvalorização: 22%

Nissan Leaf
0-km: R$ 287.300
Modelo 2020: R$ 202.015
Desvalorização: 30%

Renault Zoe Intense
0-km: R$ 219.990
Modelo 2019: R$ 120.068
Desvalorização: 45%

Fonte: Mobilidade

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