Poluição sonora faz muito mal à saúde dos motoristas

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Se você costuma passar muito tempo dirigindo nas grandes cidades, trabalha exposto aos ruídos do trânsito ou reside às margens de vias muito movimentadas, saiba que sua saúde está correndo risco. Segundo Fernando Pimentel de Souza, professor titular aposentado de neurofisiologia da UFMG, a poluição sonora advinda de alguns eixos de trânsito de Belo Horizonte, como as avenidas Afonso Pena e Amazonas, além do Anel Rodoviário, chegam a atingir 80 dB de ruído nos horários de pico. “Acima de 70 dB, o ruído provoca estresse, e, a partir de 75 dB, começa a ocorrer efeito degenerativo (perda de audição)”, explica o especialista.

Para Souza, os altos índices de ruído colaboram de maneira significativa para aumentar o estresse no trânsito, embora essa questão esteja ligada também a outros fatores. “Não é por acaso que os motoristas ficam tão irritados”, observa. O professor alerta ainda que os problemas causados pela poluição sonora começam bem antes dessa faixa crítica: “por volta de 55 dB, o ruído já atrapalha a concentração”, pontua.

E não são apenas os motoristas que sofrem os efeitos da poluição sonora. “As pessoas que transitam e moram nas vias são prejudicados, porque o ruído reverbera nos edifícios, chegando até os andares mais altos”, adverte o diretor de comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional (Abramet), Dirceu Rodrigues Alves Júnior.

Além disso, pessoas que residem às margens dessas vias podem sofrer perturbações enquanto dormem, momento em que a poluição sonora pode ser ainda mais perigosa. “Há pesquisas que demonstram que, a partir de 50 dB, o barulho afeta o sono profundo (chamado de REM, sigla para Rapid Eyes Movement), quando ocorrem importantes recuperações mentais, psicológicas e emocionais. É nesse momento que a memória é fixada no cérebro”, esclarece Souza. E o problema não para por aí: sons superiores a 35 dB atrapalham o sono superficial (não REM). “Distúrbios mentais, como psicopatias, por exemplo, estão ligados a perturbações nessa fase”, diz o professor.

Como se proteger do barulho
Dirceu Rodrigues Alves Júnior, Diretor de Comunicação e do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional (Abramet), explica que algumas medidas podem ajudar os motoristas a se proteger da poluição sonora causada pelo trânsito. A mais simples é procurar andar com os vidros totalmente fechados dentro dos veículos. “Mesmo carros comuns, nessas condições, oferecem boa proteção contra o barulho”, explica.

Além disso, o especialista propõe uso de buzinas e outras fontes sonoras apenas em caso de extrema necessidade, o que, para alguns motoristas, exige uma mudança comportamental. “O ruído do tráfego tem que ser combatido, pois toda a sociedade é comprometida”, destaca Júnior. Outra medida proposta por ele é manter o carro com a manutenção em dia. “Borrachas e vidraria em bom estado e motores bem fixados e com funcionamento adequado fazem menos barulho. Também é preciso fiscalizar veículos com alterações que aumentem o nível de ruído, como no escapamento,” diz.

Para pessoas que trabalham diretamente nas ruas, em contato com o trânsito, Júnior sugere o uso de protetores auriculares. “O ideal seria que os motoristas profissionais também usassem abafadores nos ouvidos, mas isso é proibido pelo código de trânsito”, afirma o especialista.

Quanto aos moradores que vivem às margens de grandes eixos viários, uma alternativa é fazer um serviço de isolamento acústico do imóvel. Entretanto, o professor titular aposentado de neurofisiologia da UFMG Fernando Pimentel de Souza adverte que esse tipo de solução tem limitações: “Uma janela acústica tem mecanismos de ventilação, e, assim, é capaz de isolar não mais que 20 dB,” aponta.

Exposição prolongada: Os maiores riscos da poluição sonora proveniente do trânsito estão relacionados à chamada “exposição prolongada”. Isso ocorre porque, para provocar danos à saúde humana, a altura do ruído é associada a outro fator: o tempo de exposição a ele. A partir de 75 dB, começa a existir perda auditiva a cada oito horas de exposição. Se o barulho aumentar, o tempo de exposição até que ocorra efeito degenerativo diminui. Por isso, pessoas que ficam longos períodos em contato com o barulho estão mais vulneráveis.

Por Alexandre Carneiro, do Jornal O Tempo.

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