Flex deve chegar a 80% da frota em 2018

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Oficialmente, tudo começou com o lançamento, em março de 2003, de um Volkswagen Gol motor 1.6 e um nome de batismo que, na época, despertou a curiosidade dos motoristas brasileiros: Total Flex. A chegada ao mercado do primeiro veículo em série habilitado para rodar com gasolina, etanol ou a combinação de ambos, em qualquer proporção, foi cercada de incertezas. Bastaram poucos anos, entretanto, para que os carros flex fuel, os populares flex, revolucionassem a indústria automotiva brasileira e se tornassem líderes incontestáveis de produção e vendas no mercado.
Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a produção de automóveis e comerciais leves da categoria flex era de 49 mil unidades em 2003. Em três anos, pulou para 1,3 milhão de veículos e não parou de crescer desde então. Foram 2,6 milhões de veículos flex produzidos em 2010 e 2,95 milhões em 2013 – ano em que a indústria bateu recorde, chegando à marca de 20 milhões de unidades produzidas.
A frota circulante de veículos equipados com motores flex corresponde a 60% da frota total, com a expectativa de atingir 80% até 2018. Com exceção da frota destinada à exportação, praticamente 100% da produção destinada ao mercado interno é de veículos flex. Resultados que, de certa maneira, pegaram de surpresa a própria indústria automotiva, que não estava plenamente convencida da viabilidade comercial à época. “Quando lançamos o flex havia a incerteza sobre a receptividade do consumidor. Era esperado que ele ficasse com a pulga atrás da orelha no que se refere à qualidade e à eficiência do veículo. Mas a aceitação foi maravilhosa”, recorda o vice-presidente da Anfavea, Henry Joseph Junior.
Os carros flex percorreram uma longa estrada antes do lançamento comercial no mercado. A incerteza sobre a aceitação da tecnologia recaía na falta de confiança dos consumidores nos veículos movidos a álcool – um carro tipicamente brasileiro. Retrocedendo no tempo, programas de incentivo ao uso do etanol, como o Proálcool, na década de 70, visavam reduzir a dependência das importações de gasolina. Por tabela, os veículos a álcool se tornaram campeões de venda no Brasil – em meados da década de 80, respondiam por 85% dos carros comercializados. “No início da década de 90, com menores incentivos aos produtores, houve uma crise de desabastecimento desse combustível, as cenas de filas nos postos se tornaram comuns e as vendas desses veículos despencaram. ”
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Na virada do século, porém, em mais uma das crises internacionais do petróleo, o preço da gasolina explodiu – e o do etanol, com a demanda em queda, se mostrava atrativo. Motoristas começaram a fazer a própria mistura de álcool e gasolina ao encher o tanque, o chamado “rabo de galo”, e a indústria encontrou a brecha necessária para tirar do papel o projeto de um carro que rodasse com os dois combustíveis. Com o uso de uma tecnologia que, de certa maneira, já estava desenvolvida graças a um time de engenheiros da filial brasileira da multinacional Bosch, que alguns anos antes embarcava pela primeira vez sistemas de injeção eletrônica em carros a álcool.
“Junto com outros engenheiros, tive a ideia de desenvolver, via injeção eletrônica, um veículo flexível no uso de combustíveis. Esse Chevrolet Omega serviu de amostragem para clientes e governo, e rodamos 200 mil quilômetros na década de 90. Eu tinha a convicção da vantagem dessa tecnologia para o Brasil, que dava o livre arbítrio para o consumidor e impedia que ele fosse prejudicado por políticas de preços e de combustíveis”, relata o presidente da Robert Bosch América Latina, Besaliel Botelho.
Ainda que com atraso, a convicção se mostrou certeira. Em 2002, com a isenção do IPI para essa classe de veículos, que tecnicamente nem existia, os investimentos na tecnologia poderiam ser compensados. A partir de 2003, começou a corrida para o lançamento dos veículos flex em praticamente todas as montadoras. É consenso que, embora o primeiro veículo com motor bicombustível tenha surgido nos EUA alguns anos antes, a tecnologia flex é obra conjunta da engenharia brasileira, de profissionais de montadoras ao sistemistas (como a própria Bosch e a Magneti Marelli).
 
Fonte: Valor Econômico

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