Carros ‘populares’ perdem espaço para modelos de maior valor agregado

Mesmo diante da perspectiva de retomada da economia, com aumento da oferta de crédito, os automóveis de entrada das montadoras devem reduzir sua participação nas vendas domésticas

O mercado automotivo caminha para um novo contexto no Brasil, em que os carros “populares” vão perdendo gradualmente a expressividade nas vendas, dando lugar a modelos maiores e mais caros, principalmente os utilitários esportivos (SUVs).

As vendas de automóveis com maior valor agregado ganharam força durante a crise econômica dos últimos anos no País, em um cenário de restrição do crédito, aumento do desemprego e aperto da massa salarial. Os modelos de entrada das montadoras foram perdendo share e principalmente os SUVs conquistaram o consumidor brasileiro.

Para o diretor da consultoria automotiva Sell-Out 3, Arnaldo Brazil, esse movimento deve ganhar ainda mais força no futuro. “Não enxergo uma forte retomada das vendas de populares no País. A recessão foi muito forte e o desemprego ainda continua alto”, avalia o consultor.

Na retomada do mercado doméstico, em meados de 2017, as montadoras reforçaram a aposta em modelos menores com preços bastante atrativos, como o Kwid (Renault) e o Mobi (Fiat). Na ocasião desses lançamentos, o preço sugerido era próximo a R$ 30 mil, o que poderia atingir uma demanda ainda importante no País.

Brazil destaca que, apesar do declínio verificado na participação dos populares nas vendas domésticas e a crescente busca por modelos maiores e mais equipados, essa tendência não será imediata. “O brasileiro vai continuar buscando um bom custo-benefício. Neste sentido, populares vão manter volumes importantes”, observa.

Em 2018, o compacto Onix (General Motors) liderou o mercado de automóveis tanto no varejo quanto nas chamadas vendas diretas – a pessoas físicas e frotistas –, de acordo com levantamento da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). Dos dez mais emplacados do País, apenas dois são “pequenos” e o restante tem maior valor agregado, como o SUV Compass (Jeep) e o sedã Corolla (Toyota).

Já no segmento de comerciais leves, os modelos também de maior valor agregado foram galgando seu lugar até a liderança, como as picapes Toro (Fiat) – vice-líder do ranking da Fenabrave – e a Hilux (Toyota), no quarto lugar.

“Os SUVs têm como público-alvo a classe com maior poder aquisitivo, mas mesmo com a melhora da economia devem continuar crescendo no País. Esses modelos caíram no gosto do brasileiro”, diz Brazil.

Ele alerta que a briga pela liderança requer das montadoras um bom custo-benefício, conectividade e a melhora do pós-vendas.

“Também conta a força da marca no imaginário do consumidor. A GM, por exemplo, conseguiu ofertar um portfólio com boas opções, de hatchs a sedãs, por isso se mantém na liderança por tanto tempo”, analisa o consultor.

Vendas diretas

No ano passado, as vendas diretas atingiram um dos maiores picos do mercado brasileiro. De acordo com a Fenabrave, a fatia de PJs e frotistas no comércio de automóveis alcançou 38,07% do total, quando historicamente gira em torno de 25% a 30%.

Já em comerciais leves, os licenciamentos a empresas foram a 70,7%. “O pico das vendas diretas acompanha os momentos de crise. Isso porque as montadoras precisam manter suas linhas funcionando mesmo com a queda nos volumes do varejo”, destaca o consultor da Sell-Out 3.

Brazil aponta também um movimento recente das locadoras de alugar veículos para aplicativos de transporte de passageiros, o que contribuiu para o aumento da demanda no segmento de venda direta. Mas para o consultor a expressividade das vendas a PJs não deve se manter tão forte nos próximos anos. “O peso das vendas diretas deve recuar nos emplacamentos da indústria”, acredita o especialista.

Por: JULIANA ESTIGARRÍBIA

Fonte: DCI

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