Motoristas alugam carros e montam frota de Uber em SP

“Alugo o carro, a água, a gasolina, até o chip de celular”, diz, por telefone, uma motorista do Uber. “Descontamos o valor do que você receber em uma semana de trabalho.”
Empresários e motoristas do serviço passaram a alugar carros em seu período ocioso e até a criar frotas, prática comum entre os taxistas.
O Uber estimula a conduta, que visa a aumentar a frota do serviço e, segundo o diretor de comunicação da empresa no Brasil, Fabio Sabba, também incentivar o empreendedorismo. A empresa já fez parcerias com os serviços de aluguel de carros Movida e Localiza.
O aplicativo aceita mais de um motorista cadastrado para um mesmo carro. Também é possível cadastrar diversos veículos em uma só conta.
Com isso, motoristas alugam carros por R$ 400 a R$ 600 semanais e assumem a manutenção. Um condutor ganha em média entre R$ 900 a R$ 1.800 por semana, dependendo da quantidade de horas que trabalhar e sem descontar o combustível.
Em grupos de redes sociais, onde circulam anúncios de aluguel, a conduta divide motoristas. “Sempre vejo o povo falando da máfia dos táxis, e o que vejo é que já tem donos de frotas no Uber”, escreveu uma. “Você gera emprego e ganha dinheiro. Qual é o problema?”, rebateu outro.

16065266(Foto: Editoria de arte/Folhapress)

No sistema de frotas, o custo para o motorista de táxi é de R$ 120 a R$ 200 por dia –o valor deve ser pago diariamente, no fim do trabalho.
Há cerca de 2.500 taxistas de frota em São Paulo e 33.700 autônomos. O Uber divulga só números de todo o Brasil: mais de 10 mil motoristas.
O condutor do aplicativo recebe pagamentos semanais da empresa, que retém 20% ou 25% do valor das corridas (veja abaixo). Quando há aluguel, o dinheiro cai na conta do dono do veículo, que repassa parte ao motorista.
Estudante de quiropraxia e fotógrafo, Thiago Botte, 35, dirige pelo Uber há três meses, à tarde e à noite. Agora, quer alugar seu carro de manhã por R$ 480 mensais, enquanto está na faculdade. “Quero gerar renda no tempo em que o carro fica parado.”
Sem se identificar, a reportagem falou por telefone com a motorista do Uber que diz alugar até água. Ela e o namorado têm quatro veículos disponíveis para aluguel, por R$ 500 ou R$ 600 semanais, dependendo do modelo.
Quando paga a gasolina do locatário, o que diz fazer para “levantar quem está quebrado”, afirma que o motorista ganha R$ 300 semanais –ela e o Uber ficam com o resto.
Aberta há um mês, a empresa Encontre um Motorista funciona como intermediária entre pessoas que têm carros ociosos e motoristas do Uber sem carro. Idealizador do negócio, o publicitário Luiz Fernando Brazão afirma já ter intermediado 20 locações. Todos os veículos estão cadastrados em sua conta do Uber compartilhada com motoristas.
“Nossa intenção é transformar o carro em um investimento”, diz. Ele cobra por semana R$ 600 dos motoristas. Fica com R$ 100 e repassa R$ 500 aos donos dos carros.
“Há liberdade de escolha para o motorista trabalhar do jeito que achar melhor. Ele pode sair depois de um mês se achar ruim”, diz Sabba, do Uber. “Se eu tenho um carro extra, posso colocar o meu cunhado para trabalhar, e nós dois ganhamos dinheiro.”

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                                                                     Passageiro mostra aplicativo Uber no celular
Para Luiz Néspoli, superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos, assim como o próprio serviço, a locação deve ser regulamentada –o prefeito Fernando Haddad (PT) avalia publicar decreto ou enviar projeto à Câmara sobre o tema.
Já o professor de direito da USP André Tavares diz que é “irrelevante ao poder público, salvo para fins de eventual tributação, saber de quem é o veículo”.
TAXAS MENORES
Insatisfeitos com a redução da tarifa do Uber no final de 2015, motoristas do aplicativo criaram na semana passada uma associação.
A Associação dos Motoristas Parceiros das Regiões Urbanas do Brasil irá pressionar a empresa a rever o valor. Também servirá para negociar descontos com lojas e distribuidoras na compra de água, por exemplo, e em mecânicos e postos de gasolinas.
O presidente da entidade não quis dar detalhes nem ter seu nome publicado antes de se reunir com outros líderes do movimento –administradores de grupos de motoristas do Uber no WhatsApp.
Ele afirmou, porém, que cerca de 1.500 condutores demonstraram interesse em se associar. Segundo o Uber, há mais de 10 mil motoristas em atividade em todo o Brasil.
A tarifa do Uber no país foi reduzida no fim de novembro do ano passado. Em São Paulo e no Rio, ela caiu 15%; em Brasília, 22% na tarifa do Uber X (serviço de baixo custo da empresa) e 11% no Uber Black (tradicional). Em Belo Horizonte, a queda foi de 15% na tarifa do Uber X.
Os motoristas dessa categoria repassam 25% do que ganham ao aplicativo; os do Uber Black dão 20% ao Uber.
Quando o preço foi reduzido, a empresa por um tempo compensou o motorista por hora parada –em alguns casos, com R$ 50. Isso significa que, se um condutor fizesse uma corrida de R$ 20 em uma hora, a empresa completava com mais R$ 30. Algumas semanas depois, o benefício foi interrompido.
Com isso, motoristas dizem ter que trabalhar mais para ganhar o mesmo que recebiam quando o aplicativo entrou no Brasil, em 2014.
ESTADOS UNIDOS
A redução de tarifa também provocou insatisfação entre motoristas americanos, que marcaram protestos em diversas cidades no início de fevereiro. Eles distribuíram folhetos pedindo que passageiros não abrissem o aplicativo de celular durante um dia, assim como eles. Em Nova York, bloquearam uma rua. Condutores relataram ter passado a recusar passageiros que fariam corridas curtas.
O Uber diz que a tarifa menor aumenta a demanda, compensando a perda e, a longo prazo, ampliando o ganho. Segundo Fabio Sabba, diretor de comunicação do aplicativo no Brasil, a empresa não cogita aumentar novamente a tarifa nesse momento. “Mas estamos sempre olhando o preço para ver o quanto motorista ganha e quanta eficiência trazemos para o usuário”, afirma ele.
Segundo dados divulgados pelo Uber, a redução da tarifa dobrou o tempo em que motoristas ficam com passageiros em Nova York.
Fonte: Folha de São Paulo – Online

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