“É necessário redescobrir Belo Horizonte”

Se 2015 era, até bem pouco tempo, um ponto de interrogação, agora, depois do carnaval, ele se desenhou, enfim, como uma exclamação negativa. O pessimismo alastra-se, mas, na mesma medida, a vontade de querer superá-lo amplia-se. No setor de aluguel de carros, nas agências de viagens, na hotelaria. Mas quais são os problemas que cada elo do segmento turístico precisa enfrentar para vencê-lo?
A Revista SINDLOC-MG foi conversar com a presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais – ABIH-MG, Patrícia Coutinho. Além das engrenagens econômicas que não andam bem de um modo geral no país, a hotelaria ainda enfrenta sérios problemas pontuais. Segundo ela, o número de ofertas de leito cresceu 40% em praticamente um ano na cidade de Belo Horizonte. Resultado? Existe, cada vez mais, mais oferta que demanda. O poder público também parece desconsiderar, na avaliação dela, a importância do turismo como fonte de geração de emprego e renda. Como resolver estes e outros problemas? Perguntamos a ela.
Revista SINDLOC-MG – Os índices econômicos já apontam, há muito tempo, péssimos resultados para 2015. O segmento de aluguel de carros já andava pessimista antes mesmo do ano começar. Agora, os números vem se concretizando. O que a hotelaria pensa de 2015?
Patrícia Coutinho – A hotelaria anda de mãos dadas com a economia. Se para qualquer elo do segmento turístico o ano não vai bem, para a rede hoteleira a situação é parecida. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Minas Gerais anda bem apreensiva com 2015. Um dos principais fatores que nos leva a essa apreensão é o crescimento no número de hotéis em Belo Horizonte, sem um devido planejamento. Quando os alvarás foram liberados para suas construções, era fundamental que um estudo tivesse sido realizado sobre a quantidade ideal de leitos na capital mineira. Isso não foi observado e 83 alvarás foram emitidos. Destes, 37 hotéis já foram concluídos e alguns outros estão em fase final de construção.
RS – O crescimento na oferta de hotéis está ligado a Copa do Mundo. Dá para dizer que nesse sentido a Copa foi prejudicial?
PC – Eu sempre disse isso. Os meses que antecederam a Copa, as pessoas pareciam não querer ouvir o que era óbvio: que o número de hotéis era excessivo. Estamos pagando esse preço agora, com muita oferta e pouca demanda.
RS – O carnaval foi sintomático neste contexto? Belo Horizonte teve o maior carnaval da sua história, com a chegada de mais de 500 mil turistas e ainda assim, a ocupação da rede hoteleira não atingiu sequer 40%. O que esses números provam?
PC – Isso prova que a gente precisa fazer eventos grandes em Belo Horizonte para sustentar a nova safra de hotéis. Prova que o carnaval vai crescer cada vez mais, mas ainda estamos recebendo turistas que visitam a cidade porque têm amigos, parentes. Apesar dos grandes números do Carnaval 2015, o reflexo na hotelaria ainda não é suficiente.
RS – Belo Horizonte tem uma tradição muito grande de turismo de negócio e pouca de turismo de lazer. Isso é um passo a ser dado?
PC – A gente acredita que é necessário redescobrir Belo Horizonte. Recentemente, a Prefeitura anunciou o corte dos editais dos eventos da cidade – uma iniciativa que sempre colaborou muito para o turismo local. Isso muito nos entristece. Sem falar que a gente acredita que é preciso planejar melhor. Esse corte é muito prejudicial! Muitas empresas do segmento dependem e contam com eles para realizar seus eventos. Era necessário uma comunicação antecipada disso. Essa imprevisibilidade no Brasil é muito perigosa e a gente nunca sabe se os projetos do governo de fato irão acontecer. Esse corte mostra também uma desvalorização do turismo. Ainda não se tem uma ideia da importância desse setor. É preciso que o poder público entenda que o turismo é uma cadeia que gera empregos, que movimenta a economia. Nesse contexto, com muitos hotéis, poucos eventos, a gente vai ter que contar com a iniciativa privada e tentar modelar uma outra cidade possível para despertar o desejo de se conhecer BH.
RS – Como fazer isso?
PC – O calendário de eventos da cidade sempre foi um calendário cheio de buracos, com dias muito movimentados e outros completamente vazios. O que a ABIH-MG tem buscado é unir as informações e criar um calendário racional, onde seja possível que meses como janeiro e fevereiro sejam também contemplados. A gente vai ter que ter criatividade! A gente precisa também buscar um caminho de fortalecimento do setor turístico e é a realização de importantes eventos na cidade que impulsionem esse fortalecimento.
RS – Um dos grandes problemas do segmento de aluguel de carros são as tarifas predatórias. Na hotelaria ela também é presente?
PC – Sim. Recentemente quatro hotéis fecharam suas portas e muitos estão reduzindo o quadro funcional. A situação anda bem complicada. Muita gente está colocando os preços em patamares irreais e fazem isso porque não conseguem manter seus custos fixos. A ABIH-MG já tentou conversar com muitos empresários. É uma missão muito difícil. Eu acho que no nosso segmento as pessoas ainda não sabem se unir. Tarifas predatórias prejudicam e desvalorizam todo o setor.
RS – Como o SINDLOC-MG pode contribuir em busca de soluções para o setor ao lado da ABIH-MG?
PC – A gente precisa se unir. A gente não pode esperar muito do poder público. Isto é evidente. Então é a hora da gente pensar e focar nossos projetos juntos. Por exemplo, algum estudo recente apontou que 70% das pessoas que visitam BH são do interior do estado de Minas Gerais. Se é assim, por que a gente não se empenha em trazer os mineiros para a capital de minas? Por que não transformar Belo Horizonte na capital dos mineiros? Isso é um exemplo. Antes da gente olhar para fora, a gente precisa olhar para dentro. Se 2015 vai ser um ano difícil, talvez o caminho vai ser caminhar juntos, unir forças.
Do SINDLOC-MG.

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