A volta do dinheiro

Investidores estrangeiros aumentam participação em ações brasileiras e dão voto de confiança à recuperação da economia.
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Prioridade Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, tenta atrair estrangeiros com reformas e projetos de infraestrutura

Próxima de completar sete anos, a célebre capa que a revista britânica The Economist publicou com o Cristo Redentor decolando como um foguete foi um marco do período em que o Brasil conquistou os holofotes dos mercados internacionais. A confiança adquirida naquele período, com a economia crescendo em ritmo acelerado, a ascensão de uma nova classe média e a expectativa gerada por grandes eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada no Rio, atraiu um volume expressivo de capital estrangeiro, mas acabou sendo gradativamente destruída nos anos seguintes de expansão insustentável de gastos públicos e decisões políticas equivocadas. A economia mudou de rota e passou a encolher, o mercado de crédito foi saturado, o País perdeu o selo de bom pagador concedido pelas agências de classificação de risco e os investidores acabaram tirando dinheiro daqui para aplicar em outros países. A boa notícia é que, aos poucos, eles parecem estar voltando.

Na semana passada, um relatório da consultoria EPFR Global mostrou que, em agosto, o nível de recursos aplicados no País por fundos de títulos de renda fixa que atuam em mercados emergentes chegou a 9,4%, o maior desde maio de 2015. O salto também foi significativo entre os fundos de ações na América Latina, em que a parcela investida no Brasil chegou a 53,2% e foi a maior desde o quarto trimestre de 2014, e os fundos de títulos na América Latina, que colocaram aqui 28,7% de seus recursos, atingindo o melhor patamar em dois anos. “O fato de que todos esses grupos aumentaram sua exposição é definitivamente um voto de confiança”, disse à ISTOÉ Cameron Brandt, diretor de pesquisa da EPFR Global. Para ele, as razões por trás do otimismo têm raízes políticas, como a conclusão do processo de impeachment contra Dilma Rousseff e o tom “menos estatista” do presidente Michel Temer, mas também são econômicas. “Há menos angústia em relação ao crescimento da China e os números macroeconômicos que saem do Brasil estão ligeiramente melhores”, afirma Brandt.

Gráfico

O País também se destacado nos índices que medem o desempenho do mercado acionário. Puxadas principalmente pelos papéis brasileiros, as ações de América Latina medidas pela S&P Dow Jones Indices avançaram 32,7% no acumulado do ano até agosto, superando todas as outras regiões, num embalo que surpreendeu até alguns gestores de recursos. No mesmo período, as ações brasileiras subiram 63,2%. “Com as taxas de juros muito baixas e até negativas nos países desenvolvidos e as incertezas geradas pela saída do Reino Unido da União Europeia, os investidores procuraram outros lugares para colocar seu dinheiro”, afirma Silvia Kitchener, diretora de desenvolvimento de produtos da S&P Dow Jones Indices. “Há muita expectativa em relação ao Brasil agora que o processo de impeachment foi finalizado e grandes empresas privadas e estatais, como a Petrobras, estão passando por programas de reestruturação.” Silvia avalia que, mesmo com os problemas recentes e os muitos desafios que ainda tem pela frente, os investidores estrangeiros ainda nutrem especial interesse pelo País. “Da nossa perspectiva, vemos muito potencial para o Brasil”, diz.

CONFIANÇA EM MEIRELLES

Boa parte da recuperação de confiança vem da equipe econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que tem maior credibilidade nos mercados financeiros que as equipes anteriores. Eduardo Valle, consultor sênior para Relações Governamentais da Speyside Corporate Relations, que assessora multinacionais e investidores estrangeiros, diz que isso é “consensual” entre seus clientes, que, nos últimos meses, participaram de fusões e aquisições no setores elétrico e de petróleo e gás. “A equipe de Meirelles é reconhecidamente competente e com capacidade para implementar as medidas necessárias”, diz. “Ainda assim, percebo que os investidores estão agindo com muita cautela no mundo todo, como resquício do trauma da crise de 2008.” No Brasil, as dúvidas maiores estariam no empenho do governo em encaminhar ao Congresso Nacional a proposta de limite de gastos públicos e a reforma da Previdência – pontos que Meirelles já colocou como prioridade.

Em encontro com empresários brasileiros e chineses em Xangai, no início do mês, o ministro indicou que as oportunidades de investimentos em projetos de infraestrutura podem chegar a US$ 269 bilhões nos próximos quatro anos. Na volta ao Brasil, afirmou: “Todos confiam na nossa recuperação e estão preparados para considerar seriamente hipóteses de investimento aqui. Existem países que pretendem avançar em negociações bilaterais.”

R$ 70 bilhões
É quanto os bancos esperam que o governo arrecade com a repatriação de recursos

Termina em 31 de outubro o prazo para que os brasileiros que mantêm reservas não declaradas no Exterior possam regularizá-las. Com isso, os presidentes de bancos esperam que R$ 70 bilhões retornem aos cofres do País. A estimativa foi divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo na semana passada. O programa de repatriação do governo, que implica em pagamento de 15% de multa e 15% de imposto de renda, faz parte de um movimento global de regularização voluntária comandado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Foto: ISTOÉ – Mariana Queiroz Barboza – Murillo Constantino/Agência O Dia

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