Setor automotivo demitiu 2 mil em Minas este ano

A crise da indústria de veículos no país, com declínio nas vendas, paralisações de fábricas, avanço dos estoques e cortes de empregos nas montadoras, está derrubando a cadeia do setor. Desde janeiro, mais de 2 mil trabalhadores da área da autopeças, oficina mecânica e concessionárias em Minas Gerais já perderam o emprego. A última a ser desmontada foi a empresa de autopeças Delphi, em Itabirito, na Região Central do estado, que esta semana fecha definitivamente suas portas, com 800 funcionários demitidos. Atualmente, a produção da Delphi tinha a Fiat como cliente principal. A montadora, por sua vez, entra em mais uma parada técnica, de amanhã até segunda-feira. A decisão foi comunicada ontem, no mesmo dia em que voltaram ao trabalho os 2 mil funcionários da Fiat que estavam em férias coletivas desde o dia 9.
A situação em Minas Gerais é alarmante, conforme comentam representantes dos sindicados de metalúrgicos que não enxergam com esperanças o futuro dos profissionais do setor automotivo. No Brasil, o cenário também é sombrio: ontem a Volkswagen concedeu férias coletivas a 4,2 mil dos 5 mil funcionários da fábrica de Taubaté (SP), no Vale do Paraíba, que deverão ficar afastados até 18 de abril. Com a decisão, pelo menos, 7.354 metalúrgicos estão afastados temporariamente do trabalho por decisão das montadoras em todo país. Na Fiat, a parada técnica será de três dias, uma vez que o feriado da Sexta-Feira da Paixão e o fim de semana não entram na escala.
Na cadeia do setor, o reflexo é imediato. Em Itabirito, por exemplo, onde a Delphi atuava desde 1995, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do município, Robson Araújo Paulino, conta que a demissão de 800 pessoas da fábrica impactou a cidade. “Fomos comunicados sobre o encerramento das atividades da Delphi no dia 12 de janeiro e para minizar o impacto que isso traria negociamos com a empresa seis meses de cestas básicas, três meses de meio salário nominal e plano de saúde para os funcionários demitidos”, revela Robson. A dispensa dos funcionários foi ocorrendo aos poucos, segundo conta. “A produção total foi encerrada há 15 dias. Ainda há algumas pessoas trabalhando no setor administrativo da empresa”, comenta.
Por meio de nota, a Delphi informou decidiu encerrar suas atividades em Itabirito após ter estudado a continuidade sustentável do seu negócio de chicotes elétricos na região da América do Sul. “A Delphi decidiu pela consolidação de sua operação, anunciando o encerramento das atividades da fábrica em Itabirito, com o objetivo de manter a competitividade do negócio e poder melhor atender aos seus clientes”, diz o texto. O que se sabe na cidade é que a empresa vai se debruçar na produção em sua unidade em Paraisópolis, no Sul de Minas.
“Eles vinham reduzindo o quadro de funcionários desde 2013, quando eram 1,3 mil trabalhdores na fábrica”, comenta o secretário de desenvolvimento ecnômico de Itabirito, Sanders Jones Assis. Segundo ele, dos 800 trabalhadores, metade são do município e outros de cidades próximas. “Estamos dependendo de um acordo com a Delphi sobre o terreno onde estavam para trazer uma outra empresa para cá, mas nãos será do setor automotivo”, afirma. Segundo Robson, durante muitos anos, a Delphi teve clientes como Renault, Fiat, Mercedes e a Peugeot. “Mas por questão de mão de obra, ela foi diminuindo seus negócios. Muitas profissionais saiam de lá para trabalhar em empreteiras, porém, este setor, atualmente, também está em crise”,comenta, dizendo que como fornecedora da Fiat, a Delphi em Itabirito era uma das responsáveis pela produção de chicote elétrico do novo Palio.
Vagas extintas
Com 68% da produção voltada às fabricantes de veículos, as autopeças eliminaram 19 mil postos de trabalho no ano passado. Demissões nessa proporção não ocorriam no setor desde 1998, ano em que foram fechadas 19,4 mil vagas. Agora, o setor emprega o menor contingente desde 2009. Em Juiz de Fora, na Zona da Mata, e em Sete Lagoas, na Região Central, onde a Iveco tem fábrica, 804 pessoas ligadas ao setor automotivo já perderam o emprego. Segundo informou o sindicato, as demissões são referentes ao segmento de autopeças e oficinas mecânicas. “Há a possibilidade de outras demissões em uma empresa de autopeças, que afetaria 80 funcionários, mas estamos negociando”, conta o presidente da entidade, Ernani Geraldo Dias. Ele diz que muita gente está perdendo o emprego na cidade e as previsões não são boas.
A Mercedes-benz tem 170 trabalhadores afastados na fábrica de Juiz de Fora e este mês uma empresa de autopeça plástica, fornecedora da montadora, fechou as portas. “Foram 55 trabalhadores demitidos da Fastplas Autmotive, que tinha uma planta dentro da Mercedes, e, com a queda da produção, foi demitindo muita gente, até fechar”, lamenta o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Químicas e Farmacêuticas de Juiz de Fora, Scipião da Rocha Júnior.
Procurado pelo Estado de Minas, o Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para veículos Automotores (Sindipeças) informou estar fechando as estatísticas do ano passado e as previsões para 2015 para, depois, se manifestar. A Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) também não se pronuncia sobre o assunto. A Fiat informou, por meio da assessoria de imprensa, que não comenta o fechamento da Delphi em Itabirito.
Concessionárias fecham as portas
Com as vendas em baixa, as concessionárias de Minas também estão colocando o pé no freio. Em menos de seis meses três lojas foram fechadas em Belo Horizonte. A Cheverny, revendedora Citroën no segundo semestre do ano passado, e uma revendedora da GM e outra da Peugeot em fevereiro e neste mês, respectivamente. Segundo o Sindicato dos Empregados em Administradoras de Consórcios, Vendedores de Consórcios, Empregados e Vendedores em Concessionárias de Veículos, Distribuidoras de Veículos e Congêneres no Estado de Minas Gerais (Sindcon), nos três primeiros meses de 2015 foram registradas mais de 500 demissões somente em Belo Horizonte, Contagem e Betim, na Região Metropolitana de BH. Março foi o mês que mais registrou desligamentos, 306 até sexta-feira. Em 2014, quase 3 mil pessoas foram demitidas.
Segundo o vice-presidente do Sindcon, Diego Gonçalves, as demissões começaram no segundo semestre do ano passado e a expectativa é que esses números tendem a baixar a partir de agora. “As concessionárias já enxugaram bem os quadros e não têm mais o que fazer. Janeiro e fevereiro só não registrou número maior de demissões porque são nossa data-base e as empresas não podem dispensar sem pagar multa”, afirma. Diego afirma que o cenário econômico que gera insegurança e, consequentemente, queda nas vendas, é o principal fator relatado pelos empresários.
O último levantamento divulgado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) aponta queda de 22,5% nas vendas de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus neste ano, até fevereiro, em relação a igual período de 2014. Tendo em vista os dados de fevereiro frente a janeiro, a retração é de 28,3%. Gerente de novos da Carbel Linha Verde, revenda da marca Volkswagen, Rayner Matos, confirma que os negócios estão em baixa e que a loja vende hoje, cerca de 20% menos do que vendia no mesmo período do ano passado. “Ainda não fizemos corte de pessoal. Estamos tentado superar a queda no movimento com outras ações, como a venda de seminovos, que agora está melhor”, afirma.
Na Pisa Ford, o gerente Antônio Longuinho também afirma que não houve demissões. Segundo ele, os resultados da loja continuam no mesmo patamar do ano anterior, graças ao lançamento do novo Ford Ka, que tem se tornado campeão em vendas. “Estamos fazendo ajustes de despesas para economizar e diminuímos a margem de lucro em quase 25% para não precisar rescindir contratos trabalhistas e continuar com o mesmo atendimento”, completa.
Procurada para falar sobre o fechamento de uma das unidades, os responsáveis pela Grande Minas, da marca Chevrolet, informaram que não comentariam o assunto ontem. A reportagem tentou contato com os donos da Vernon, da Peugeot, que fechou uma unidade na capital em fevereiro, e da Cheverny, mas eles não foram localizados. Já o Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos de Minas Gerais (Sincodiv), também foi procurado pelo Estado de Minas, mas não respondeu aos contatos até o fechamento da edição.
Por Luciane Evans e Francelle Marzano, do Jornal Estado de Minas.

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