Com 72 casos, recall de veículos bate recorde em 2013

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De BOL

Os automóveis estão chegando ao mercado brasileiro cada vez melhores, mais sofisticados e tecnológicos. Em compensação, a quantidade de defeitos (potenciais ou reais) apresentados e, com isso, a necessidade da realização de recalls, tem crescido na mesma velocidade. Segundo dados do Ministério da Justiça, ao longo deste ano, e até quinta-feira (26), as fabricantes fizeram 72 convocações, de um ou mais modelos, para reparos e/ou substituição de peças.
Trata-se do maior número já registrado no país — o recorde anterior era de 2010, quando houve 51 chamados (em 2012 foram 45, e em 2011, 34). Veja quem foi chamado em 2013 no álbum acima (como cada recall pode incluir mais de um modelo da mesma marca, o álbum tem 79 carros).
Pelos dados disponíveis para consulta no endereço eletrônico do Serviço de Proteção ao Consumidor (Procon) de São Paulo, entre janeiro de 2002 e novembro de 2013 as fabricantes de carros efetuaram 366 recalls, envolvendo modelos de passeio e utilitários leves, atingindo 5.618.592 unidades. Levando em conta motos, caminhões, triciclos, quadriciclos, chassis para ônibus e microônibus, eixos e motores de popa, os números sobem para 484 e 6.850.749, respectivamente (os dados totalizados não incluem os chamados de dezembro de 2013).
LADO BOM, LADO RUIM
Maria Inês Dolci, da Proteste, observa que fazer recall é prova de cuidado das fabricantes, mas alerta para “número alarmante” de convocações: “O controle de qualidade das marcas não anda muito bom, e os processos na linha de produção precisam ser revistos”
Mas, se os veículos estão melhor preparados e mais modernos, por que a necessidade de consertos e troca de componentes tem aumentado tanto? De acordo com Andrea Arantes, assessora técnica do Procon-SP, as hipóteses são duas: “A primeira é que as empresas, por conta da elevada produção, estão investindo mais em tecnologia para poder detectar os problemas e, assim, fazer os reparos necessários com mais rapidez, o que é muito positivo. A segunda é totalmente negativa: mostra que elas estão fabricando em maior quantidade, mas com menos qualidade”, analisa.
Para Marcus Vinícius Aguiar, diretor técnico da Associação de Engenharia Automotiva (AEA), a quantidade de recalls tem crescido por outra razão. “Os veículos atuais estão muito mais complexos. Na década de 1990 eles eram quase que 100% mecânicos. Hoje, não mais: o número de componentes eletrônicos e de tecnologia embarcada é imenso, e isso acaba elevando a probabilidade de falhas”, afirma.
Aguiar é enfático ao dizer que as montadoras, e não apenas as que produzem carros de luxo, têm rígidos controles de qualidade, assim como seus fornecedores. Segundo ele, os sistemas utilizados por este tipo de empresa estão cada vez mais apurados — também por isso, a constatação de defeitos tem subido.
Por isso, as montadoras podem dizer que fazer recall não é nenhuma vergonha. A Honda, que realizou 17 recalls no Brasil nos últimos três anos, garante que os seus chamados são medidas preventivas. “A convocação dos proprietários dos veículos da marca é realizada mesmo que o risco de alguma ocorrência seja mínimo, o que atesta de maneira irrefutável o compromisso com seus clientes”, diz a empresa. A montadora reafirma que não entende o recall como algo negativo.
Pelo contrário: para ela, sua realização só mostra o zelo com o consumidor.
Quanto a isso, Maria Inês Dolci, coordenadora do departamento de Relações Institucionais da Proteste Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, concorda. “Não podemos dizer que o recall é algo ruim quando o defeito apresentado pelo automóvel pode colocar em risco a vida do motorista e dos passageiros. O ideal seria que ele não fosse necessário, mas, se for, a empresa precisa realizá-lo com rapidez e transparência, o que realmente revela sua preocupação com o cliente”, comenta.
“Mas não dá para deixar de lado o número alarmante de convocações registradas este ano. Isso significa que o controle de qualidade das marcas não anda muito bom e que os processos na linha de produção precisam ser revistos”, acrescenta Maria Inês.
QUEM FEZ RECALL
Este ano, as principais razões para a realização de recall foram os sistemas de combustível e airbags, com nove chamados cada; freios (seis), e fechamento de portas, vidros, capô, capota e teto solar (quatro).
LANÇOU, CHAMOU
Fiat Strada Cabine Dupla: 3ª porta, grande novidade do modelo, está envolvida indiretamente em “recall relâmpago”
Tecnológico e global, Ford Focus pecou num detalhe básico: a fixação dos bancos; por isso, foi chamado um mês após o lançamento
As montadoras que mais fizeram convocações foram Mercedes-Benz, com cinco, envolvendo carros e caminhões; BMW (quatro); Ford (quatro, também contabilizando leves e pesados) e Chevrolet (três).
Os maiores chamados de 2013, por sua vez, ficaram a cargo de Honda (186.853 consumidores do Fit), em junho; Hyundai (66.957 compradores dos modelos i30, ix35 e Azera), em outubro; Mitsubishi (64.265 proprietários da picape L200 Triton), em abril, e Volkswagen (62.624 donos dos modelos Amarok e Tiguan), em novembro. Todos os dados foram fornecidos pelo Procon-SP.
Até mesmo modelos recém-lançados passaram por recall este ano. Isso aconteceu com o Ford Focus, pouco mais de um mês após seu lançamento oficial, no final de setembro. De acordo com a montadora, o motivo é uma possível falha de fixação dos bancos. Também foi o caso da picape Fiat Strada, que alardeou a 3ª porta nas versões de cabine dupla — mas teve de chamá-las devido a um erro no tamanho do parafuso de fixação do cinto de segurança exatamente na porta extra.
Tirar o carro novo da garagem para atender a um recall é frustrante. O produtor gráfico Israel Costa Carvalho, 33 anos, comprou este ano um Chevrolet Onix LT zero quilômetro, e também terá de levar o carro até uma concessionária para troca de peças. Ele conta que ficou sabendo das convocações — para inspeção e eventuais substituições do pedal de freio e da estrutura do encosto dos bancos dianteiros — pela televisão.
“Meu carro ainda é novo, então é cedo para pensar em trocar, mas quando for a hora certamente irei pesquisar melhor e muito provavelmente não comprarei um modelo que tenha acabado de ser lançado. Acho que esse número de recalls para o mesmo produto é muito alto. A impressão que dá é que correram para colocá-lo no mercado, e ninguém quer que seu bem já saia de fábrica com defeito, seja o defeito que for”, desabafa Carvalho.
SERVIÇO FEITO, CONFIANÇA PERDIDA
Carolina Fucci teve os reparos feitos em seu Aircross na revisão obrigatória, já que ela nem ficou sabendo dos recalls: “Na oficina, disseram que não tinha problema em consertar além do prazo”. Carolina disse que o aviso da fabricante pode ter sido enviado a seu endereço antigo, mas pondera: “Gostaria que tivessem tentado outros meios para me comunicar”.
SEM PRAZO
Ao constatar um defeito, a fabricante deve imediatamente convocar os consumidores para a realização de reparos ou troca de peças. Como informa o Procon-SP, o recall deve ser gratuito, efetivo, e sua comunicação tem de alcançar todos os consumidores expostos aos riscos — por isso a legislação exige que o comunicado seja feito da forma mais ampla possível, em jornais, rádio, televisão e internet.
Andréa Arantes, do órgão de defesa do consumidor, explica que o recall não tem prazo de execução, apesar de as montadoras estipularem datas para início e término. “É importante que o consumidor saiba que, mesmo que perca o prazo, ele pode ter o serviço realizado”.
Foi o que aconteceu com a empresária Carolina Iadocicco Fucci, 34 anos, moradora em São Paulo. Proprietária de um Citroën Aicross GLX 1.6 16V Flex, ano/modelo 2010/2011, ela conta que só atendeu ao recall mais de um ano após o chamado.
“Na verdade, não fiquei sabendo das convocações. Só tive conhecimento quando levei meu carro à concessionária para revisão.
Na ocasião, me disseram que havia dois chamados pendentes, um para troca de parafusos e outro de flexíveis de freio, mas que ambos os serviços poderiam ser efetuados naquele momento”, relembra.
Para Carolina, a realização de recalls mancha a imagem da marca. “Dá a impressão de que não fizeram todos os testes necessários [antes da venda] e assumiram o risco de vender o carro assim mesmo. Isso gera insegurança. Eu fiquei bastante preocupada e nada satisfeita. Também gostaria que a empresa tivesse me contatado por mais de um meio, para garantir que de fato eu havia sido comunicada”, encerra.
TUDO SOBRE RECALLS
+ Além do recall “tradicional”, existe outro não obrigatório. É o chamado “recall branco”, que não precisa ser comunicado. Ele acontece quando a montadora detecta um defeito que não afeta a segurança. Nestes casos, a substituição dos componentes, que também é feita gratuitamente, acontece quando o consumidor leva o carro até a concessionária para revisão ou algum outro serviço.
+ O proprietário do veículo pode entrar com uma ação de ressarcimento junto à montadora caso tenha pago pelo conserto da peça com defeito antes ou depois da divulgação do recall. Para isso, é preciso guardar comprovantes e notas fiscais.
+ Caso o consumidor já tenha sofrido algum dano em razão do uso de produto defeituoso, deverá recorrer ao Judiciário para pleitear ressarcimento de danos morais e materiais.
+ No Brasil, a questão do recall está prevista no artigo 10 do Código de Defesa do Consumidor. Também consta na Lei Federal 8.078/90.
+ Para evitar que os donos de automóveis não atendam ao chamado das montadoras, o projeto de lei 4637/2012, que está sob análise da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), prevê o bloqueio do licenciamento de carros com recalls não realizados.
+ De acordo com a Portaria Conjunta 69, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), as informações referentes às campanhas de recall não atendidas no prazo de um ano, a contar da data de comunicação, constarão do Certificado de Registro e Licenciamento de Veículo (CRLV).
+ Em abril de 2012, a Comissão de Defesa do Consumidor aprovou proposta que exige que o proprietário do veículo apresente comprovante de atendimento de recall durante a vistoria de transferência da propriedade.
+ Os recalls realizados no país podem ser consultados nos sites do Procon e do Ministério da Justiça. Neles é possível fazer pesquisas por data, modelo, marca e defeito.
Fonte: Câmara dos Deputados e Serviço de Proteção ao Consumidor (Procon) de São Paulo
 
Fonte: ABLA

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