Estudo aponta uso de drogas ilícitas em vítimas fatais do trânsito

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De Serviço de Comunicação da Prefeitura do Campus USP de Ribeirão Preto

O flagrante de pessoas dirigindo sob o efeito de álcool, especialmente daquelas que se envolvem em acidentes de trânsito, é comum. Mas saber das vítimas fatais, quais estavam sob o efeito de drogas ilícitas no momento do acidente é algo ainda desconhecido no Brasil. Na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, um estudo toxicológico mostrou a realidade quanto ao uso de álcool e drogas ilícitas em 391 vítimas fatais de acidentes de trânsito na região metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, entre 2011 e 2012.
 
A pesquisa toxicológica em vítimas fatais de acidentes de trânsito utilizou amostras de sangue. Os resultados, mesmo que esperados, ainda surpreendem, pois quase metade dessas mortes, 44,8% tiveram exames positivos para a presença de álcool e/ou drogas ilícitas, o que segundo o autor, o perito toxicologista da perícia criminal Fabrício Pelição, confirma o maior risco de acidentes para aqueles que conduzem veículos automotores sob o efeito de álcool e outras drogas. “E essas mortes foram tanto de motoristas, 59% do total de amostras, como de passageiros, 14%, e de pedestres, 12%”, afirma o pesquisador.
 
Segundo Fabrício, esse tipo de amostra permitiu avaliar uma população de forma uniforme, o que na população de vivos não acontece, pois a maioria das pessoas que usou algum tipo de droga não permite a coleta, gerando uma positividade falsamente mais baixa. Os resultados da pesquisa, diz, levam a um maior conhecimento sobre o problema de uso de drogas ilícitas no trânsito brasileiro, limitado anteriormente ao uso de álcool e que ignorava completamente as outras drogas. “Podemos dar início a discussões mais profundas e que levem a mudanças na legislação para nominar quais são as drogas proibidas e definir limites de concentração, por exemplo.”
 
Os acidentes automobilísticos foram responsáveis por 46% das mortes, enquanto os acidentes motociclísticos, de 38%, mesmo com todos os dados apontando que os motociclistas se envolvem muito mais em acidentes de trânsito. Os atropelamentos foram 15%. Como o foco foram as vítimas fatais, não foram pesquisados os acidentes de pequeno porte.
 

Drogas ilícitas

 
A detecção de álcool ou drogas foi mais frequente em vítimas do sexo masculino com idades entre 16 e 34 anos, positivos em 46,8% dos casos. “A droga mais prevalente foi o álcool, 36,1%, seguida de cocaína, 12%. Anfetaminas e cannabis foram 4,1% cada”. O pesquisador revela, ainda, que o uso simultâneo de álcool e outras drogas também teve resultado expressivo, foi encontrado em 9,2% das vítimas, sendo que a associação de drogas mais comumente encontrada foi a de álcool e cocaína (7,7%). O uso de crack foi comprovado em 27,7% dos casos positivos para cocaína.
 
O perito lembra a necessidade de mais pesquisas desse tipo no Brasil, mas alerta sobre as dificuldades. Para o estudo é necessário adquirir padrões dessas drogas, que são as drogas purificadas em concentrações bem estabelecidas. “Mesmo sendo uma cocaína em concentrações muito pequenas para favorecer qualquer outro uso que não o laboratorial é praticamente impossível conseguir comprar esse material no Brasil, por conta de dificuldades impostas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, ainda, tem as dificuldades de aprovação de projetos desse tipo nos conselhos de ética, o que pode ser explicado pela falta de conhecimento da maioria dos avaliadores. Por último, a necessidade de equipamentos sofisticados e de alto custo e de profissionais habilitados”, avalia.
 
Ele cita como complexa, por exemplo, a pesquisa para detectar o uso de crack. “Buscamos encontrar o EMA (éster de metil anidroecgonina), substância formada pela degradação da cocaína durante o ato de fumar a droga. Como é formado apenas nessa situação, consideramos um marcador do uso de crack, ou seja, se o EMA é detectado significa que o utilizou cocaína na sua forma fumada (crack).”
 
Para o perito, a vantagem, mais uma vez, é a de conhecer o problema. “O uso do crack no contexto do trânsito não foi apresentado como problema em nenhum país do mundo. Mesmo no Brasil é uma droga que, acredita-se estar relegada a populações menos favorecidas, como a de moradores de rua, por exemplo, mas neste estudo vimos que ela está presente também em motoristas.
 
A tese de doutorado Avaliação da presença de drogas de abuso em amostras de sangue colhidas de vítimas fatais de acidente de trânsito na Região Metropolitana de Vitória  – ES  teve orientação do professor Bruno Spinosa De Martinis, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP e foi defendida em outubro de 2014.
 
Fonte: Portal do Trânsito

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