Enquanto tenta conter escândalo, Volks estuda recall ou compensações

volks

A Volkswagen AG deve nomear Matthias Müller, que comanda a Porsche, a marca de carros esportivos da montadora alemã, para o cargo de diretor-presidente do grupo todo, em mais uma medida para tentar conter um escândalo envolvendo testes de emissões de poluentes.
Müller, de 62 anos, vai substituir Martin Winterkorn na liderança da empresa, disseram pessoas a par do assunto. Winterkorn renunciou na quarta-feira, após a empresa admitir ter durante anos fraudado testes de emissões de poluentes realizados nos Estados Unidos.
Müller assumiu o comando da Porsche em 2010, um período de rápido crescimento que incluiu olançamento de dois utilitários esportivos bem recebidos pelo mercado. Ele é considerado próximo das famílias Porsche e Piëch, que controlam a Volkswagen.
Separadamente, outros executivos da empresa informaram o governo alemão que certos veículos a diesel damontadora vendidos na Europa também possuem o software que ajudou parte de seus automóveis a evadir os padrões de limites de emissão de poluentes nos EUA.
No começo da semana, a Volkswagen informou que o software foi instalado em até 11 milhões de veículos ao redor do mundo e já era esperado que carros vendidos no seu próprio mercado, a Europa Ocidental, também tivessem o software. Mas o anúncio de ontem expõe os desafios logísticos que a Volkswagen enfrenta, assim como governos, reguladores, concessionárias e consumidores dos dois lados do Atlântico, para identificar quais veículos foram afetados e como remediar o problema.
“Fomos informados que também há veículos afetados na Europa com motor diesel de 1,6 e 2 litros”, disse em Berlim o ministro alemão dos Transportes, Alexander Dobrindt. “Vamos continuar a trabalhar intensamente com a Volkswagen para descobrir quais veículos foram afetados”, completou.
Dobrindt disse que o ministério ainda não tem números específicos para a Europa, embora essa informação deva ser apurada nos “próximos dias”, graças à estreita colaboração do ministério com a Volkswagen. Segundo Dobrindt, o governo vai esperar que o escopo do problema seja definido, antes de decidir possíveis consequências para os carros que tenham sido manipulados.
Num sinal do nervosismo que voltou a atingir a indústria automobilística, investidores venderam ações da BMW AG ontem, após uma revista alemã especializada em automóveis ter publicado que um utilitário esportivo a diesel da marca emitiu mais poluentes num teste de rodagem do que em testes de laboratório.
A BMW informou não ter conhecimento do teste em questão, mas que muitos de seus modelos a diesel tinham obtido resultados satisfatórios tanto nas ruas quanto em laboratório.
A Volkswagen revelou que carros mundo afora tinham um software que, segundo a Agência de Proteção Ambiental americana (EPA), teria permitido que veículos da montadora fossem aprovados em testes de emissões em laboratório, mesmo emitindo muito mais poluentes ao trafegar normalmente nas vias.
A EPA poderia obrigar a Volkswagen a fazer o recall de quase 500 mil veículos fabricados nos EUA, devido ao software.
A Volkswagen pediu desculpas e afirmou estar trabalhando para identificar os carros afetados e resolver o problema. A montadora fez uma provisão de 6,5 bilhões de euros (US$ 7,27 bilhões) para arcar com possíveis obrigações e outros custos referentes ao caso.
Ontem, a Volkswagen não quis fazer nenhum novo comentário sobre as declarações na Alemanha, atendo-se aos comunicados que já tinha divulgado informando o número de carros afetados no mundo.
A Europa Ocidental é a região mais importante para a Volkswagen, onde detém quase 25% do mercado de veículos leves – em comparação com menos de 5% na América do Norte. Enquanto sua partipação na América do Norte está estagnada, na Europa e na Ásia ela cresce rapidamente.
Ainda não está claro se o software ajudou carros na Europa a fraudar testes de emissões. Segundo analistas, já que na Europa as normas de emissões de motores a diesel, como as referentes ao óxido de nitrogênio, são muito menos rigorosas, um motor poderia estar dentro das normas europeias mesmo não passando em testes nos EUA.
Isso, contudo, só complica o desafio da Volkswagen de identificar quais veículos foram afetados e quais estariam em conflito com as regulamentações dos governos. Uma vez que isso seja determinado, os executivos devem enfrentar uma questão ainda mais desafiadora: se é possível resolver o problema por meio de um recall ou se os consumidores e as concessionárias terão de ser compensados de outra forma. Certos governos na Europa oferecem subsídios a veículos a diesel supostamente “limpos” e podem tentar recuperar os recursos se os carros da Volkswagen se mostrarem mais poluentes que o anunciado.
Segundo Dobrindt, o ministério dos Transportes está fazendo testes aleatórios com veículos de montadoras alemãs e estrangeiras como parte da investigação do escândalo da Volkswagen. Ele não disse quais montadoras.
As ações da BMW fecharam ontem com queda de 5,2%, a 75,68 euros, na bolsa de Frankfurt, após a revista “Auto Bild” ter publicado que emissões de um utilitário esportivo da marca superaram os limites europeus num teste de rodagem.
Grupos ambientalistas já tinham apontado discrepância entre emissões verificadas em laboratório e no tráfego normal, mas a questão assumiu maior importância para investidores e consumidores após as acusações da EPA contra a Volkswagen, feitas na semana passada.
Ontem, ao divulgar uma prévia de uma reportagem a ser publicada ainda esta semana, a “Auto Bild” afirmou que um utilitário a diesel da BMW, o X3 xDrive 20d, emitiu um volume de óxido de nitrogênio mais de 11 vezes superior ao permitido pela União Europeia em condições normais. Segundo a revista, os resultados foram obtidos num teste de rodagem conduzido pelo Conselho Internacional de Transporte Limpo (ICCT, na sigla em inglês), uma organização de pesquisa sem fins lucrativos, que havia alertado as autoridades para os problemas com os veículos a diesel da Volkswagen.
A BMW afirmou não ter manipulado resultados de testes. “No grupo BMW, não há atividades específicas ou provisões técnicas que influenciem emissões registradas durante o modo de teste”, disse um porta-voz. Segundo a BMW, outros dois estudos do ICCT mostraram que o X5 e mais 13 modelos da montadoraobedeciam exigências legais em matéria de emissão de óxido de nitrogênio e que não tinha conhecimento do teste citado pela “Auto Bild”.
(Colaboraram Friedrich Geiger, Ilka Kopplin e William Boston.)
Fonte: Valor Econômico – Impresso

plugins premium WordPress
Receba as últimas notícias

Assine a nossa news gratuitamente.
Mantenha-se atualizado com
as notícias mais relevantes diretamente em seu e-mail.